Internacional
16.08.2021
EUA fogem do Afeganistão abandonando milhare s de colaboradores
>>> MR

É uma lei militar: não se deixa ferido em campo de batalha. Os EUA foram embora do Afeganistão deixando afegãos que lhes serviram como intérpretes ou mesmo espiões, agora ameaçados de morte se descobertos pelo Talibã. Milhares de cidadãos que conviveram com as forças americanas nos 20 anos de guerra também foram abandonados correndo atrás de aviões da retirada no aeroporto de Cabul.
Cenas impressionantes. Desesperados, e o jato rolando na pista, lembra imagens icônicas do fim de outra guerra: o helicóptero no teto da embaixada dos EUA em Saigon, e vietnamitas numa escada, tentando embarcar. O Afeganistão caiu praticamente sem tiros. O exército afegão treinado e armado por militares americanos não opôs resistência ao avanço relâmpago do Talibã. Igual caiu o moderníssimo exército do xá Pahlevi, do Irã, quando da chegada de aiatolá Khomeini. Era apelidado de “cão de guarda dos EUA” no Oriente Médio, e não deu um tiro.
Toda retirada de militares ocupantes num país é problemática. Lembro que os soldados israelenses entraram no Líbano saudados por chuva de arroz, e saíram sob pedradas.
O secretário de Estado Tony Blinken atribuiu a culpa pela nova humilhação americana aos soldados afegãos. O governo americano esperava que ele contivesse o avanço imparável dos talibãs. O presidente Biden contava comemorar a retirada dos EUA de uma guerra que a maioria dos americanos não mais apoiava no próximo 11 de setembro, a data em que a Al Qaeda derrubou com aviões sequestrados as duas torres de Wall Street, em NY, e parte do Pentágono, em Washington. Foi o início da guerra de vingança no Afeganistão, à caça de Osama bin Laden.
Biden não será mais lembrado por ter trazido para casa os últimos soldados de uma guerra que matou 2.448 de americanos e custou 1 trilhão de dólares. Agora, terá colada nela a imagem dos afegãos correndo atrás de um avião em fuga desesperada dos talibãs. Como Jimmy Carter ainda é lembrado pelos helicópteros trombando no ar na sua frustrada tentativa de libertar os reféns americanos na embaixada de Teerã. Biden teve que mandar seis mil soldados para Cabul, interrompendo a retirada dos remanescentes. O preço de seu erro de avaliação será catastrófico, e não só por causa da aproximação da China e Rússia do Afeganistão dos talibãs. Os Estados Unidos perde credibilidade entre seus aliados.
Trump também quis retirar os EUA do Afeganistão. Ele assinou um acordo com o Talibã pelo qual a retirada estaria concluída em maio passado. Queria mais: pensou em convidar o Talibã para um acordo maior em Camp David, sem a presença do presidente afegão Ashraf Ghani, que fugiu de Cabul para um país vizinho assim que os primeiros muhajedins chegaram domingo à capital.
O pior para Biden não será o fim da festa em 11 de setembro. O pior será se a ebulição e caos em que ele deixou o Afeganistão produzirem um ou mais grupo terrorista como a Al Qaeda. (capas via kiosko.net)