Internacional
06.10.2021
SURPRESA: A GUERRA DE YOM KIPPUR NÃO FOI UMA SURPRESA
>>> MR

A Guerra do Yom Kippur, há 48 anos hoje, não foi totalmente surpresa para Israel. Com 61 documentos liberados pelo Arquivo do Estado, num total de 1.229 páginas, alguns novos e importantes dados devem ser acrescentados à história conhecida. O principal é que o chefe do Mossad na época, Zvi Zamir, relatou à primeira-ministra Golda Meir que um agente egípcio, Ashraf Marwan, o avisou, 14 horas antes, que a guerra ia começar.
“Ele me disse que a guerra está chegando. Não sei por quê. Será à tarde ou à noite. Ele vai para a guerra. Ele mostrou detalhes. Eu decidi ligar (para a primeira-ministra Meir)” — conta Zamir num dos documentos.
Nas reuniões do governo, Marwan era chamado de “o amigo de Zvika”.
“Zvika’s friend” disse que a guerra só vai acabar em duas situações: ou o exército egípcio é destruído ou Sadat é morto. Golda Meir comentou: “Gostaria que ambos acontecessem”.
Quando o governo israelense discutia se e como deveria cruzar o canal de Suez, dia 12 de outubro, chegou outra informação de Marwan: brigadas de paraquedistas e forças blindadas (egípcias) seriam ativadas para capturar importantes objetivos no deserto do Sinai”.
Israel temia um ataque de foguetes Scud que teriam ogivas com gás. Quem os disparavam, para os egípcios, eram os russos. A primeira-ministra Meir, mostram os documentos, queria entender por que (o secretário de Estado Henry) Kissinger estava em pânico. O vice Yigal Allon especulou: “Talvez pelo envio de uma força soviética para o Egito” — o que não aconteceu.
O governo israelense também discutiu atacar o aeroporto internacional da Síria, em Damasco, com foguetes Ivri, dos quais só havia 25. A ideia era que os “buns” do bombardeio fariam tremer as janelas na cidade. O que impediu o disparo foi a existência de civis na área do aeroporto. O general Moshe Dayan era voto contra.
Os documentos revelam outra faceta da guerra: a coleta de dinheiro para mantê-la. O ministro de Finanças, Pinchas Sapir, detalha como obteve a doação de 2 milhões de libras esterlinas de Dorothy de Rothschild, visitando-a em Londres. O jornal Haaretz publicou um resumo dos documentos liberados em sua edição desta quarta-feira. O texto termina com mais uma tirada de humor de Golda Meir, que, questionada por Dayan se ela iria passar a noite no gabinete, respondeu: “Eu estava pensando em ir a uma discoteca, mas vou ficar aqui por um tempo”.